SINOPSE



        ADAGIO SOSTENUTO desenvolve, em três atos, o processo de queda, redenção e renascimento na vida de uma mulher, através da percepção, compreensão e aceitação da transcendência e eternidade do amor. O filme tem como ponto de partida sete meses na vida da cineasta Anna Maria Morelli, casada há 15 anos com o historiador e roteirista José Morelli, quando ambos estão envolvidos na produção do seu novo filme, que também se chama ADAGIO SOSTENUTO, termo que em linguagem musical significa “movimento lento e sustentado”, cujo último plano mostra os protagonistas, um casal de velhos professores de história aposentados, em uma praia deserta, à noite, na iminência de tirarem a própria vida.

        No primeiro ato, José sugere que o final do roteiro que escreveram contenha a idéia da eternidade do amor. Ele acredita que o amor transcende todas as barreiras, inclusive a da morte. Para tanto, acrescenta duas frases ditas pelos velhos antes de se suicidarem, o som dos tiros e um prolongamento na imagem da praia. A idéia é discutida e analisada com Anna, que diverge completamente de José. Ela não quer os tiros, nem acredita na transcendência do amor. Ao final, a opinião dela prevalece.

        Sete meses depois, na noite em que o último plano está sendo rodado, José, ao deixar o estúdio, leva um tiro durante um assalto quando para o carro num sinal de trânsito. Avisada, Anna ainda chega a tempo de testemunhar, impotente e desesperada, a morte do marido. A produção do filme é, então, paralisada.

        O segundo ato se passa três semanas depois da morte de José, na noite que antecede a continuação da filmagem do plano interrompido, o único que falta para concluir a filmagem. Durante esse tempo, Anna desenvolveu um processo compulsivo em relação à morte de José e, ao estudar as pesquisas e anotações do marido sobre a Guerra do Pacífico e o posterior desenvolvimento dos EUA como império após a 2ª Guerra Mundial, através de processos invasivos bélicos e financeiros, ela vai ficando cada vez mais abalada com o assassinato dele, ao mesmo tempo em que percebe e se torna plenamente consciente do significado da idéia da eternidade do amor.

        Nesta véspera, em seu escritório, Anna conversa com Mariana, produtora do filme e amiga do casal há muito tempo, que tenta despertá-la do estado de letargia e abatimento em que se encontra. Mas Anna, seguindo na direção do que ela considera um encontro marcado com José, pretende se matar naquela noite. Para não deixar o seu trabalho inacabado, ela diz a Mariana que não há necessidade de filmar mais nada, que o filme já está pronto, bastando para isso utilizar todo o material filmado e montá-lo de acordo com o roteiro até o final do penúltimo plano, quando o casal de velhos sai do seu apartamento para o suicídio na praia, acrescentando então uma das frases que José havia sugerido e com isso desenvolvendo, de um modo diferente do que ele havia formulado, a idéia da transcendência do amor. Mariana, que nunca soube da conversa entre José e Anna a respeito do assunto, não concorda.

        De volta para casa, sozinha e submersa em seu mundo interior de culpa, dor e saudade, Anna escreve uma carta de suicídio. Na carta, ela afirma que agora compreende a idéia da transcendência e da eternidade do amor e une o seu suicídio ao suicídio dos velhos do seu filme, estabelecendo um paralelo com o desfecho proposto por José.

        Para Anna, os dois velhos professores já não são apenas os personagens de um filme que ela escreveu com o seu marido, mas sim a representação daquilo que eles desejavam, envelhecer juntos, o “movimento lento e sustentado” que o título significa, e que foi brutalmente interrompido. Anna também vê na inviabilidade que atingiu o casal de velhos uma semelhança com o que acontece com ela desde que José morreu, e, como na última cena proposta por ele, não encara mais a morte como uma resignação e um final em si, mas como um rito de passagem para a transcendência e a eternidade do amor, ao contrário de tudo que ela pensava e sentia anteriormente.

        A convulsão interna de Anna vai aumentando até que, no momento decisivo, com o revólver encostado na cabeça, ela não tem coragem de disparar o gatilho. Ela desiste de se matar. Ela não pode se matar. O único modo de José continuar vivo é Anna seguir em frente e terminar o filme que escreveu com ele. A história dos velhos, que simboliza a história do século passado e a luta contra todas as formas de esquecimento, precisa ser contada. Ela precisa sobreviver. E a última coisa que eles criaram juntos vai sobreviver.

        No terceiro ato, sozinha em sua casa, ao tomar um banho, se preparando para ir para o estúdio, Anna começa a se sentir culpada por achar que traiu o amor que sente por José e não ter tido coragem de ir até o fim. Após a noite anterior, Anna é uma ruína emocional. Diante do espelho, atormentada e angustiada com o seu ato de recusa, ela é tomada por uma violenta crise, quebrando tudo ao seu redor e acabando por ir ao chão. Sem mais encontrar forças para sustentar sua decisão, em seu desamparo e desespero, ela vê José surgir a sua frente e estender a mão para levantá-la.

        Anna vai para o estúdio e, trancada no camarim, diante de outro espelho, lembrando-se do último dia de filmagem com o seu marido ainda vivo, ela tem um derradeiro instante de dúvida e começa a conversar com José em forma de oração. A última etapa do processo acontece. Anna aceita a idéia da transcendência e da eternidade do amor. E finalmente entende o inexplicável. Porque ela sente. E aceita o que sente. Ela vai para o set e conclui a filmagem com o final sugerido por José no início. A memória daquele amor vence. Anna sobrevive. O amor é eterno.



©Copyright 2004 Pompeu Aguiar/Paulo Coriolano
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Sob o nº 330929, livro 607, folha 89


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